No Brasil, a tradição de consumo das castanhas portuguesas chega juntamente com as festas natalinas. Sobre a mesa da ceia, na sobremesa ou decorando o peru de Natal, a castanha está sempre presente. Acredito que a forma mais comum de consumo entre os brasileiros é a cozida, mas também pode ser consumida fresca, assada, cristalizada e na forma de farinha para confeitaria (Bueno e Pio, 2014). Na Europa, é muito comum carrinhos de rua que vendem porções das castanhas assadas na hora, bem quentinhas e deliciosas. Acredito que mais gostoso que o próprio sabor, é o aroma que esses carrinhos deixam pela rua. Seria maravilhoso encontrar um desses por aqui. Será que alguém já pensou nisso? #ficaadica
Apesar de conhecida no Brasil como castanha do tipo portuguesa (ou simplesmente castanha-portuguesa), recebe seu nome de acordo com o local de origem. Na China é conhecida como castanha-chinesa, no Japão e Coréia do Sul como castanha-japonesa, na América do Norte como castanha-americana e em Portugal, claro, como castanha-portuguesa. (Bueno e Pio, 2014). Apesar de produzida principalmente na China, Coréia, Japão e sul da Europa, você sabia que a castanha do tipo portuguesa também é cultivada no Brasil? A cidade de São Bento do Sapucaí, que faz divisa com Minhas Gerais, tem cultivado castanhas desde a década de 60, mas a produção brasileira ainda é insuficiente para atender à demanda interna, tornando o Brasil um grande importador dessas iguarias.
Pra adaptar a espécie do Hemisfério Norte para o clima brasileiro, pesquisadores começaram um trabalho de seleção genética há aproximadamente 20 anos. Das 110 combinações estudadas, chegaram a um bom resultado em 13 cultivares. A CATI (Coodenadoria de Assistência Técnica Integral), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo, possui um pomar experimental no Vale do Paraíba com as diferentes espécies da castanheira, que plantadas na mesma época, mostram condições como tamanho e frutificação diferentes (um bom experimento para avaliar a adaptação das espécies). Os estudos da CATI mostraram que apesar de ser de clima frio, a castanha do tipo portuguesa se adéqua bem em algumas regiões do Brasil, dependendo da altitude, tipo de solo e temperaturas adequadas. (GLOBO RURAL. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/838220/. Acessado 05 nov. 2017).
Parece que Tapiraí, no interior de São Paulo, é uma das cidades que se encaixam nas condições necessárias. Em escala muito pequena, de apenas algumas árvores, Tapiraí pode não abastecer nem a demanda local, mas abastece minha casa durante as festa natalícias. Há dez anos, meus avôs se mudaram para o interior de São Paulo e desde então, criamos uma tradição: colher castanhas no dia do Natal. Um cesto, uma luva e um sapato fechado. Isso é tudo que precisamos. O terreno não é grande, mas aproximadamente oito árvores carregam no final do ano e ver o chão repleto de frutos, é uma emoção que não canso de sentir. Pra quem nunca viu (estou deixando algumas fotos que tirei em Tapiraí), as castanhas crescem dentro de um “ouriço” e quando estão maduras, caem no chão. A quantidade de castanhas dentro de um ouriço pode variar. Bom, pelo menos nas árvores de Tapiraí, varia muito. Já encontrei ouriços com apenas uma castanha e até mesmo com cinco. Do chão para o cesto e do cesto para a panela. Muitas vezes, cozinhados no mesmo dia, comemos pura, preparamos bolo ou servimos da forma que mais gosto: com mel e vinho branco. A receita não tem segredo e nem medidas certas. Basta seguir a dica abaixo e adaptar ao seu gosto.
Dica: depois de cozidas, descasque as castanhas, coloque-as em uma forma, regue com um pouco de mel, um pouco de vinho branco e leve para assar até que seque um pouco líquido (mas não deixe secar muito). Sirva como aperitivo. Aproveite para tomar o mesmo vinho branco que usou no preparo.
Gostou? Esse é só um aperitivo. Que venha o Natal!
Bueno, Silvana Catarina Sales, & Pio, Rafael. (2014). Castanha tipo portuguesa no Brasil. Revista Brasileira de Fruticultura, 36(1), 16-22. https://dx.doi.org/10.1590/0100-2945-442/13
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